Sempre gostei de observar os gráficos populacionais. Número de habitantes, expectativa de vida, taxa de natalidade, essas coisas. Um dia, falando com umas amigas, comentei uma notícia de jornal que dizia que a taxa de natalidade estava caindo rapidamente no Brasil. Cada vez menos mulheres grávidas e crianças eram observadas no país, sobretudo no sudeste. Uma de minhas amigas contestou essa estatística, “Mas não é possível! Toda vez eu vejo mais uma conhecida minha grávida!”. Embora a redução da natalidade seja um número incontestável, a percepção dela era verdadeira. De fato, muitas adolescentes estavam engravidando em nosso círculo de conhecidos. Quando contei para minha mãe, ela comentou que na época dela também haviam muitas adolescentes grávidas, mas que as mesmas caminhavam também para a constituição de um casamento e de uma família em seu modelo tradicional.
Resolvi procurar se esses números realmente estão aumentando os nascimentos a partir de mães adolescentes. Às vezes, as estatísticas podem desconstruir uma visão que tenhamos construído no nossa escala de vivência. O mundo é sempre maior do que aquilo que nós podemos ver.
Nas duas décadas, o número de gestantes entre 14 e 19 anos chegou a níveis realmente altos, segundo o IBGE. No ano de 2010, as adolescentes eram quase 23% do total de gestantes e em 2002, eram 20,2%. Isso demonstra que realmente houve um crescimento nesse período. Porém, em 2012, esse número caiu bastante e atingiu 17,7%, ou seja, a impressão da minha amiga não se confirmou nos números atuais. Estão tendo menos adolescentes grávidas hoje que há alguns anos.
É importante lembrar que só existe a divulgação de números específicos para a gravidez na adolescência porque é um dado preocupante. Embora nenhuma menina seja proibida de engravidar - e os meninos de engravidarem as mesmas- a culpa não é exclusivamente feminina, pois não se trata de uma livre escolha, mas de uma perda de escolha. Uma menina e um menino que se tornam pais na nossa idade ou mais novos vão ter a obrigação de arcar com uma responsabilidade incompatível com as expectativas dessa geração. Em geral, os pais acabam estudando menos e trabalhando
em ocupações menos exigentes. Acabam fazendo o país produzir menos, por exemplo, uma vez que o nosso PIB diminui com esse tipo de mudança na força de trabalho.
Além disso, casos de aborto induzido ou espontâneo são muito mais comuns em gestações de adolescentes, que são geralmente inesperadas. O IBGE ainda listou os principais motivos, sendo eles: desconhecimento dos métodos para evitar a gravidez; método conhecido, mas não praticado; uso incorreto ou falha do método. Há ainda outras questões mais complexas, como os casos machistas, que já ouvi falar, de quando o rapaz pressiona a menina para não utilizar o contraceptivo mais famoso, a camisinha. Parece absurdo, mas ainda há muitos homens que creem poder comandar esse tipo de coisa e há muitas meninas que são levadas a acreditar nisso.
Há muito o que se discutir sobre essa sensível questão, mas é importante lembrar que, embora o número de jovens grávidas tenha diminuído, é um dado preocupante pelo seu nível elevado. Até mais! Bjokas!
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