Muito mais que um médico
Para iniciar nosso papo sobre Moacyr Scliar, grande autor, médico e professor universitário, quero citar uma de suas frases mais famosas: “contar uma história é estabelecer vínculos afetivos com as pessoas”. Foi para a sua formação de médico que publicou o primeiro livro História de um médico em formação, mas não esqueceu depois disso de também percorrer a carreira de escritor, ambas aconteciam paralelamente. De família judia, fugida da Guerra, escolheu a cidade de Porto Alegre para viver e realizar suas histórias.
Adorava escrever contos, sendo os principais iniciais Tempo de espera e Carnavais dos animais. Nessas obras já se encontrava um contista maduro e sabedor com maestria das características desse gênero, dentre estas preferia uma literatura fantástica e a escrita de narrativas curtas, antecipando uma preferência de escrita pós-modernista chamada de minimalista. Ele relatava a profissão de médico em seus contos, expondo seu lado idealista, ao narrar a vida do médico dedicado a combater doenças coletivas, como febre amarela e varíola, no início do século XX brasileiro. Tal história está em Sonhos Tropicais.
Sua condição de judeu e filho de imigrantes europeus fornece ao escritor uma quantidade enorme de experiências que vão dos primeiros aos últimos livros. Uma das mais importantes é O ciclo das águas, que relata a vida da comunidade judaica no Rio Grande do Sul. Vê-se muito de sua ideologia e sua história de vida em seus textos, ele mesmo, na maneira de sair da autobiografia relata: “Usamos a imaginação para completar as lacunas da vida, prover explicações para coisas que não entendemos, traçar caminhos e entender o passado”. Outra de suas marcas é a presença de personagens que fogem à normalidade do cotidiano, apresentando desvios éticos ou psíquicos provocados por uma sociedade violenta e competitiva.
Vale a leitura de sua literatura infanto-juvenil, já que na maioria de seus livros, os protagonistas vivenciam situações existenciais decisivas para a formação dessa faixa etária, como: as crianças desejarem alcançar o afeto de pais e irmãos; e os adolescentes buscarem autoafirmação e fortalecimento da identidade. Esses temas mostram que ele deseja que o leitor se identifique com a personagem, com quem aprende a entender a si próprio. Além disso, tais personalidades mostram-se bem definidas, o que não impede de expressarem problemas, de que nem sempre sabem, mas serão solucionados em parte por iniciativa do herói, ou graças à generosidade de algum adulto solidário (pai, tio, amigo da família, professor). Assim, seja na ficção, no ensaio ou na crônica, tal autor é de um estilo altamente humanista, que o torna dono de valores que com certeza estão faltando na sociedade! Procurem por seus contos juvenis! Até mais! Bjokas!