Outro dia, em uma aula sobre a formação de Estados Nacionais, caímos em uma discussão sobre cidadania. A professora perguntou o que seria cidadania? Um ou outro nerd deu uma resposta pronta, daquelas do esquema “copia e cola” do Wikipédia. No final, concordei com a professora que ninguém compreendia muito bem esse conceito e muito menos tinha consciência de sua importância e menos ainda o praticava.   

Liguei para meu amigo e filósofo Fred que me ajudou, como sempre, com provocações que me fizeram refletir. Perguntei para ele:

- Cidadania é o mesmo que direitos e deveres?

Ele respondeu com uma pergunta, como de costume:

- Você quer decorar um conceito ou entender realmente o que significa?

- Entender. Já passei da fase de decorar. Você sabe.

- Ok. Ser cidadão e acima de tudo compreender que vivemos em coletividade, ou seja, dividimos os espaços, ou melhor, compartilhamos os recursos. O que significa compartilhar?

- Significa que não é tudo meu ou seu, é nosso.

- Exato. Se já temos dificuldade de compartilhar o controle remoto da televisão, em casa com nossos familiares, imagine como é difícil dividir recursos, como espaços, alimentos e energia.
Um bom cidadão sabe buscar seus interesses, seus direitos individuais ou coletivos, e respeitar os dos outros, isto é, os deveres frente à coletividade.

- É aí que entram as leis?

- Sim. Imagine uma comunidade sem leis...

- Não consigo imaginar.

- Mas já houve, certo? Pense que a humanidade não surgiu com regras pré-estabelecidas. Elas foram co-construídas pelas pessoas. E elas fizeram isso, pois acharam, em algum momento, que era necessário. Naquele momento, funcionou com uma espécie de acordo de convivência entre todos.

- Vimos isso, não foi? O Pacto Social de Rousseau.

- Que bom que você lembra...

- Não sei se hoje isso tem o mesmo significado.

- Por quê?

- Sei lá... Não sei se as pessoas veem dessa maneira... Se acham que as leis funcionam como uma forma de “acordo”... Parece algo imposto.

- Bem observado... De fato, hoje as “comunidades” cresceram tanto que um indivíduo não consegue participar tanto da política. Esse afastamento gera questionamentos e conflitos. Por outro lado, esse crescimento fez com que as leis e a cidadania fossem ainda mais importantes. Concorda?

Concordei com o Fred. Disse também que deveríamos lutar por uma participação maior na vida política da sociedade. Ele explicou que isso seria uma Democracia participativa, diferente da Democracia representativa que temos hoje. Mas esse é outro papo...