O português
Olá, galerinha! Nosso papo cult de hoje é sobre um escritor que eu mega curto: Jorge de Sena. Poeta nascido em Portugal, teve uma vida muito conturbada quando criança, pois seu pai queria que fosse militar e sua mãe músico. Seu pai venceu e a passagem pela Armada constituiu uma experiência traumática da sua adolescência que será matéria de diversos poemas e ficções, como A Grã-Canária e, no caso da Guerra Civil, Sinais de Fogo. Jorge de Sena começou a escrever em 1936, estreando-se em 1942 com Perseguição, porém licencia Engenharia Civil (1944) pela Universidade do Porto, ano em que se exila no Brasil. A mudança para o Brasil permite-lhe uma mudança profissional que vai ao encontro da sua vocação, dedicando-se ao ensino da literatura, acabando por se doutorar em Letras, o que o fez ter o diploma de Livre-Docência, naturalizado brasileiro em 1963.
Os anos de Brasil (1959-65) os primeiros como adulto, em liberdade, são talvez o seu período mais criativo: completa a sequência de poemas sobre obras de arte visual, Metamorfoses (uma das obras que mais influência teve na poesia portuguesa, não é o de Kafka!); escreve os experimentais Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena, as metamorfoses de Arte de música e a novela O físico prodigioso; inicia o romance Sinais de Fogo; investiga e publica sobre Luís de Camões e o Maneirismo; trabalha na edição do Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa; retoma a escrita para o teatro, etc. Nossa! Mudou praticamente o cenário literário com tanta contribuição.
Na ditadura brasileira, se muda para os Estados Unidos, com sua mulher e seus nove filhos, virando professor universitário e membro importante de departamentos latinos. A obra de Jorge de Sena, ampla e multifacetada, compreende mais de vinte coletâneas de poesia, uma tragédia em verso, uma dezena de peças em um ato, mais de trinta contos, uma novela e um romance, e cerca de quarenta volumes dedicados à crítica e ao ensaio (como sobre Camões e Pessoa, poetas com os quais a sua poesia estabelece um diálogo). A intervenção do intelectual nos domínios da cultura ganha novos horizontes com a atividade de docente e investigador universitário no Brasil, reforçando também a sua ação cívica como opositor ao Estado Novo (período ditatorial do Getúlio Vargas), já que participava de partidos republicanos em São Paulo.
É com essa enorme experiência que Jorge de Sena vai construindo a sua obra. Ele sempre entendeu sua poesia (o seu teatro, a sua ficção) como uma forma de dar testemunho de si mesmo e das suas circunstâncias, sem com isso menosprezar, antes pelo contrário, o trabalho de organização estética das emoções e dos sentimentos, ancorados na observação, na meditação, e em relembrar uma experiência de mundo concreta, no plano individual e coletivo. Assim, a obra de Jorge de Sena faz com que a ética e a estética se confundam, e com que o lirismo se mesclasse com um forte pendor especulativo e narrativo, deve ser lida, nas suas palavras, como uma “meditação sobre o destino humano e sobre o próprio fato de criar linguagem”, de acordo com as palavras do próprio literário. Uma leitura difícil, mas para você leitor que ama um desafio, vale à pena seguir por esse caminho alternativo! Tenha uma ótima leitura. Bjokas!