O Narcotráfico na Colômbia
A década de 80 foi marcada pela “explosão” de um grave problema colombiano: o narcotráfico. A Colômbia, após atravessar a “época de ouro” na produção da maconha (“marijuana”), entrou na década de 60 produzindo cocaína e chegando, na década de 80, a ser a primeira produtora mundial da folha de coca e de cocaína, principalmente devido à transferência das zonas de cultivo da Bolívia e do Peru pelas políticas de proibição adotadas nesses países.
Na década de 80, houve um crescimento sem precedentes da “economia da coca” ou “economia da droga”, que estende seus “tentáculos” sobre diversos segmentos sociais. O alcance desses “tentáculos” atinge desde membros pertencentes aos aparatos de segurança, justiça e política dos Estados, que sob ameaça ou subornos facilitam os fluxos ligados às drogas, até o pequeno produtor rural, que sem opções de boa remuneração com plantios tradicionais, por tradição cultural ou devido à violenta pressão de traficantes resolve cultivar a folha da coca. No caso da Colômbia, a “economia da coca” envolve a formação de bandos urbanos de traficantes e assassinos como em qualquer outro lugar, mas, também, a de grupos paramilitares. Além disso, permite o financiamento de guerrilhas através do imposto cobrado sobre a produção ou mesmo pelo tráfico da droga. O crescimento gigantesco do narcotráfico propiciou a ascensão dos famosos cartéis da droga, sobretudo nas cidades colombianas de Medelín e Cali. O termo “cartel de Medelín” foi criado por agentes da “US Drug Enforcement Administration” (DEA , Departamento Antidrogas dos EUA). Os dois cartéis mais importantes da Colômbia foram: o Cartel de Medelín, liderado por Pablo Escobar, e o cartel de Cali, liderado pelos irmãos Orejuela.
Os EUA orientaram o governo colombiano na captura de Escobar, para isso, treinaram militares colombianos e organizaram o “Search Bloc” (uma tecnologia de triangulação de rádio fornecida pelos EUA que permitia localizar ligações feitas por Escobar). O apoio dos EUA possibilitou a localização do alvo (Escobar) e sua execução em cima de um telhado numa tentativa de fuga. Um fato curioso foi a estratégia desenvolvida pelo governo para pegar Escobar. A perseguição durou 16 meses e envolveu os chamados “Los Pepes” (diminutivo de “pessoas perseguidas por Pablo Escobar”), cujos chefes incluíam os irmãos Fidel e Carlos Castaño (que se tornariam líderes paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia – a AUC), os chefes do Cartel de Cali (inimigos de Escobar) e a família de Escobar. Os cartéis foram desmantelados, mas a produção de cocaína e heroína continuou crescendo.
O Plano Colômbia consiste no apoio logístico e financeiro do governo dos Estados Unidos para o combate à “narcoguerrilha” na Colômbia. As bases originais do acordo eram o financiamento de US$ 500 milhões a US$ 700 milhões, por ano, para Colômbia investir em sistemas de combate entre 2000 e 2005. Estima-se que, nos cinco anos de vigência do Plano Colômbia, as remessas dos EUA para o país atingiram o montante de USS 4,5 bilhões e embora tenha ocorrido a expiração formal do Plano, o governo estadunidense continuou enviando “auxílio” para Colômbia. Em 2007, por exemplo, oficialmente, foram mais US$ 700 milhões. Inclusive, em 16 de março de 2009, o presidente Uribe manifestou o interesse na manutenção do Plano. A maior parte do dinheiro foi gasto na compra de helicópteros (dos EUA, é claro, inclusive, tal aspecto é uma exigência do Congresso dos EUA para liberação do dinheiro) e no treinamento e equipamento de novos batalhões do exército colombiano (por militares e empresas estadunidenses). O objetivo principal era eliminar as guerrilhas e os grupos paramilitares através do combate contra as drogas, já que o comércio de entorpecentes financia tais grupos. Em 2004, os EUA alteraram mais uma vez a denominação de seu plano de ação contra o narcotráfico na região da Amazônia (com destaque para Amazônia Colombiana), surgiu o Plano Patriota.
O Plano Patriota consistiu, por ocasião de seu lançamento, numa vasta operação de ataque às áreas ocupadas pelas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), abrangendo uma área de mais de 250 mil km². O Plano envolveu milhares de soldados (cerca de 15 mil), apoiados por forças móveis, esquadrões especiais de combate na selva e aparato tecnológico fornecido pelos EUA. Em apenas um ano, o general James Hill, chefe do Comando Sul, realizou mais de uma dezena de reuniões com chefes militares regionais para planejar a ofensiva.
Nos primeiros quatro anos de mandato, Uribe expandiu as forças de segurança em um terço, contratando mais de 60 mil soldados e 30 mil policiais suplementares e alocou destacamentos permanentes de polícia em 150 municípios que não os possuíam. Criou uma força batizada de “soldados populares” com cerca de 20 mil soldados camponeses que trabalham meio expediente para executar tarefas de guarda local. Deslocou, inteligente e estrategicamente, seis novos batalhões do exército para o alto dos Andes que, antes, serviam de corredor e refúgio estratégico das FARC. Além disso, o governo criou as brigadas móveis de ofensiva para ataques que treinam nas condições específicas da zona de combate, o alto dos Andes.
Em resposta à intensificação no combate governamental, as FARCs ampliaram suas ações. Em fevereiro de 2005, guerrilheiros da Frente 29 das FARCs cercaram a base de infantaria de Iscuandé, no departamento de Nariño, com o objetivo de tomar a base da marinha situada na fronteira desse município. Foram utilizados armamentos e explosivos pesados, que reduziram a base a escombros e provocaram a morte de 16 pessoas (dentre eles um comandante da marinha), mas além desse, foram realizados diversos outros ataques e o guerrilheiro Raul Reyes declarou que a crescente onda de ataques das FARCs não eram atos isolados, mas parte de uma estratégia de enfrentamento ao plano de “segurança democrática” do governo.
Essa nova onda de ataques e as respectivas respostas do governo provocaram 178 mortes e 46 feridos entre guerrilheiros, militares, civis e até crianças, além de 08 sequestrados, somente no mês de fevereiro, no pior momento de embates com o governo Uribe.
No final de 2006 (em setembro), o presidente Álvaro Uribe entrou em um acordo humanitário com as FARC. Esse acordo estabeleceu uma “zona de encontro” para negociação com os integrantes da guerrilha.
Em junho de 2007, as negociações sofreram um importante impacto. As FARC confirmaram a morte de 11 dos 12 deputados estaduais que mantinha como reféns, segundo o comunicado, um grupo armado não identificado teria invadido o acampamento onde estavam os ex-deputados, que teriam sido mortos em consequência da troca de tiros.
Com mais “legitimidade” popular, o governo colombiano acirrou os embates e conseguiu executar, em setembro, o guerrilheiro Tomás Medina Caracas, conhecido como “El Negro Acacio” e outros 17 membros da guerrilha num bombardeio da Força Aérea contra a Frente 16 das FARC no departamento de Vichada. Além deles, também foram mortos Gustavo Rueda Díaz, conhecido como “Martin Caballero”, e mais 23 guerrilheiros em outra operação na região de Los Montes de Maria, área rural do município de Carmen de Bolívar, norte do país realizada pelas Forças Armadas contra a Frente 37 das FARC.
No início de agosto de 2009, os governos da Colômbia e dos Estados Unidos iniciaram, ao menos aberta e publicamente, a negociação sobre a permissão para que americanos utilizem 3 bases em solo colombiano (no dia 04 de Agosto, o general colombiano Freddy Padilla, durante seu discurso de inauguração da Cúpula de Comandantes de Forças Militares, na cidade de Cartagena, disse que 07 bases estariam envolvidas no acordo, mas que “as bases são colombianas e não americanas” e que “o tipo de material que vai estar ali, depende da Colômbia”).
Segundo o acordo, os EUA, por dez anos, poderá manter cidadãos estadunidenses, entre militares e civis no território colombiano em bases militares. Além disso, estão previstos investimentos na ordem de 5 bilhões de dólares pelo acordo. Assim, o discurso oficial foi construído. Inclusive, no dia 14 de agosto, o governo colombiano, em um comunicado oficial do Ministério das Relações Exteriores, anunciou como encerradas as negociações relativas ao acordo de cooperação militar e assistência técnica em matéria de defesa com os EUA. Oficialmente, o acordo prevê a possibilidade de utilização pelos EUA de até 07 bases militares em solo colombiano, além de aporte de novos investimentos para o fortalecimento das Forças Armadas colombianas.
Com o acordo, o número de envolvidos no Plano Colômbia, que segundo o jornal “El País” era de 268 militares e 308 civis estadunidenses, pode chegar a 800 militares e 600 civis. Segundo este, apresentado ao legislativo em 03 de novembro de 2009, aviões dos EUA podem aterrissar em qualquer aeroporto internacional da Colômbia (antes era proibido, os aviões deviam pousar no aeroporto de Eldorado, em Bogotá, para receberem a permissão de movimentação no espaço aéreo), ou seja, na prática, os aviões estadunidenses receberam “carta branca” de livre circulação no espaço aéreo colombiano, uma afronta contra a soberania do povo colombiano. Quanto à extraterritorialidade dos militares, o artigo 08 ratifica a imunidade para o pessoal administrativo e técnico das missões. Já com relação à geopolítica regional, o artigo 03 do acordo proíbe expressamente a realização de operações fora do território colombiano.
Por hoje é só, pessoal! Bjokas!