Sou mulher. Todos os dias eu passo em frente a uma banca de jornal para ver as manchetes do dia e me deparo com várias capas de revistas voltadas para o público feminino. Em todas elas, um traço em comum: dicas de como emagrecer ou ter um “corpo perfeito”. Vejo isso desde que me entendo por gente e criei em mim uma preocupação sobre a aparência do meu corpo maior que em meus amigos meninos de mesma idade. Com o passar dos anos, essa preocupação poderia ter aumentado, caso eu não lesse o que leio, porque sempre associam a felicidade e realização feminina à construção do corpo perfeito.
Sobre os homens, essa corpolatria, preocupação excessiva com o “corpo perfeito”, também acontece. Mas é inegável que sobre as mulheres é mais forte, inclusive associando nossos corpos à aprovação masculina. Tenho uma prima que, assim que demonstrou um pequeno sobrepeso, foi bombardeada pela família sobre maneiras de emagrecer, dietas, e sacrifícios que seriam necessários para alcançar o corpo ideal. Por que isso acontece? Será que a satisfação corporal de todos tem que estar sempre subordinada a opinião dos outros?
A preocupação excessiva é um problema também. Pode causar, entre outras coisas, a bulimia e a anorexia. A anorexia, para além da magreza extrema, é um transtorno psicológico, o qual a pessoa sempre acha que precisa emagrecer mais. Nos Estados Unidos, a idade de manifestação desses distúrbios diminui a cada ano. As internações entre menores de 12 anos (12 anos!!!) cresceram 119% entre 1999 e 2006. A anorexia já é a terceira doença mais comum entre as jovens norte-americanas, atingindo 0,5% da população feminina até 21 anos. A bulimia já atinge 1%. Isso tem acontecido em outros países também.
No Brasil, dados da última pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), divulgada em janeiro de 2014 corroboram com a estatística e mostram que o número de academias aumentou 133%, nos últimos 5 anos. A pesquisa, feita entre 2007 e 2012, mostra que o setor saltou de 9,3 mil estabelecimentos para 21,7 mil durante o período. Os índices de preocupação com a imagem corporal têm crescido no mesmo ritmo.
Temos que separar,é claro, essa preocupação excessiva com o corpo das condições de saúde. Se exercitar e sair do sedentarismo são necessários e não têm necessariamente ligação com a construção do corpo perfeito. Uma pessoa pode estar muito bem de saúde e não ter apresentar músculos estimulados. Ao passo que alguém que é elogiada publicamente por ter conseguido alcançar tal imagem pode apresentar diversos problemas de saúde. Um exemplo disso é a procura alta por anabolizantes e outros produtos que prometem acesso rápido ao corpo ideal, mas que podem causar
sérios problemas de saúde e levam, infelizmente, muitas pessoas a morte. É a contradição entre imagem dos corpos e saúde dos corpos.
Lá no começo desse texto falei que não me preocupava tanto com isso porque leio muito. Eu disse isso porque diversas leituras me fizeram aumentar a consciência de que o meu corpo pertence somente a mim. E quem deve estar mais satisfeito com ele deve ser eu mesma. Procurar aumentar minha qualidade de vida de maneira saudável e, se eu quiser, procuro estar com o corpo que me faça sentir bem. A mídia e a sociedade nos pressionam, principalmente nós mulheres, a ter a necessidade de várias preocupações que não deveríamos ter. A corpolatria é um produto cada vez maior hoje em dia e tem produzido efeitos bastante complicados. Desapegue disso e seja feliz com o seu próprio corpo ideal. Quem não concordar com isso... Bem, não é problema deles.
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